seguida do que se leu; e os que lêem para fazer algo, para fazer avançar o
conhecimento, os autores".
Pierre Bourdieu (1930-2002)
Pierre Bourdieu (1930-2002) é
considerado um dos grandes pensadores do século XX. Começou sua produção intelectual
na década de 1960 e desenvolveu, ao longo dos anos, estudos sociológicos com a
perspectiva de denunciar a dominação social que se dá na escola e nas relações
sociais de uma forma geral. Por meio de seus estudos no âmbito da Sociologia,
apresentou novos conceitos, dentre os quais se destaca: o habitus, a violência simbólica, o conceito de campo e os tipos de
capitais.
O conceito de habitus é importantíssimo para a compreensão das práticas
assimiladas como legitimas e ilegítimas, numa determinada sociedade e num
determinado tempo histórico. Pode-se entender por habitus o resultado das interações, perceptíveis ou não, que
definem a forma de ser do indivíduo numa classe social. Para tanto, Bourdieu
critica a formação das escolhas pessoais, o gosto por, e as formas de
comunicação/expressão como construídos (herdados) socialmente e reconfirmado
pelas instituições reguladoras, especialmente a escola e família.
A ideia de violência simbólica foi uma
das grandes denuncias feita por Bourdieu em sua literatura. Para Bourdieu a
violência simbólica se dá pela castração (simbólica) das personalidades,
condicionando as pessoas ao padrão coletivo aceitável como legitimo. O processo
de violência simbólica se desenvolve ao longo da vida do individuo como um
regulador das práticas culturalmente aceitas. Para Bourdieu a escola é um dos
mais adequados ninho de agentes violentadores, fortemente regulamentado pela
autoridade coercitiva educativa.
O conceito de campo social em Bourdieu
representa os espaços de dominação e conflitos entre as classes sociais e as
diferentes culturas. Elementos estes que estão em constante subversão entre si
com o intento de classificar, desclassificar e reclassificar os padrões
legitimizadores. Para que haja condições de sobrevivência nestes campos,
segundo Bourdieu, é preciso que se conheçam as estratégias de campo, ou seja, é
preciso conhecer quais os valores, ideais, ideologias, utopias, crendices,
medos, intentos, omissões, verdades e mentiras de cada diferente campo para,
então, ter condições de jogar.
Pierre Bourdieu acreditava que não
havia apenas o capital econômico como forma de capital (forma de troca e valor
extrínseco). Por isto, concebeu outras formas de capital, a saber: capital
cultural, capital social, capital intelectual. O capital intelectual refere-se
à instrução acadêmica e nível de conhecimento formal. O capital social
refere-se à rede de relacionamentos de cada pessoa. O capital cultural é o
resultante da interação de todos os capitais que define o ethos de cada pessoa em um determinado grupo social.
O sistema de escolarização fora outro
objeto de investigação para Bourdieu. Para ele a escola não detinha condições
sociais, intelectuais e nem culturais para ser neutra e ofertar um conhecimento
de forma igualitária e relevante. Para Bourdieu a escola funcionava como agente
de manipulação das classes dominantes com o intuito de desclassificar alguns
(grupos minoritários e/ou desfavorecidos). Sendo assim, a proposta de educação
para todos era uma dissimulação da verdade e das condições reais de
desenvolvimento social.
Pierre Bourdieu trouxe várias
contribuições para o desnude da realidade contemporânea. Extrapolou a concepção
marxista de vinculação do social meramente condicionado ao processo produtivo e
levou-o a perspectivas simbólicas veladas. Para Bourdieu cada pessoa é fruto de
conexões limitadas socialmente, culturalmente, intelectualmente e
economicamente. E neste duelo de campos os indivíduos se encontram em processo
de constante transformação/conflito com fins a desfrutar a aceitação presente.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 15 de Novembro de 2014]
Nenhum comentário:
Postar um comentário