“Nossas vidas começam a terminar no dia em que
permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam”.
Martin Luther King Jr (1929-1968)
Ligue o
celular, conecte-se, veja o “zap zap”... é assim num elevador. Preferimos olhar
uma tela com sorrisos e selfies
ensaiadas, do que olhar para o lado e ver semblantes que espelham nossas vidas
modernas. Preferimos enviar uma imagem com “bom dia” para grupos virtuais, do
que saudar com um “bom dia” o desconhecido vizinho junto ao elevador. Tristemente,
perdemos a habilidade de conversar, hoje, apenas sabemos teclar. Neste mundo com
tanta fluidez e liquidez descobrimo-nos na estupidez.
Ligue o
celular, conecte-se, veja o “zap zap”... é assim no carro. Quando as luzes
vermelhas do sinaleiro ficam acesas, como que numa visível metáfora de que é
tempo de parar, preferimos acelerar nossas percepções e mais uma vez sermos abduzidos
para aquelas coisas já ditas e para as mefistofélicas correntes de
solidariedade de gente que não mais sabe olhar para fora do vidro de um carro
com ar condicionado. Tristemente, perdemos a habilidade de perder tempo, hoje, apenas
queremos ganhar tempo. Neste mundo com tanta fluidez e liquidez descobrimo-nos na
estupidez.
Ligue o
celular, conecte-se, veja o “zap zap”... é assim num restaurante. Comer não
mais é um momento prazeroso de deleites e sensações coletivas, como tenta
resgatar o movimento slow food. Comer
se tornou apenas um ato selvagem de encher a barriga para continuar a trabalhar.
Nesta insanidade compartilhada, os seres místicos
das macumbas e das oferendas à Iemanjá acabam sendo os mais coerentes. Tristemente,
perdemos a sensibilidade do paladar e, hoje, apenas nos tornamos mutantes com
habilidades touch screen. Neste mundo
com tanta fluidez e liquidez descobrimo-nos na estupidez.
Ligue o
celular, conecte-se, veja o “zap zap”... é assim na igreja, em casa, numa
festa, na fazenda, no amor, na família, nas brigas, nas paixões, nas noites,
na cama, no banheiro... enfim, não
somos o que teatralizamos todos os dias para nós mesmos, somos apenas aquilo
que fazemos todos os dias com os outros. Quer saber quem você é? Desligue o
celular e “conheça-te a ti mesmo” (aforismo grego). Há vida longe do “zap zap”,
há vida para além das conexões virtuais, há vida após o celular. Então, fuja da
fluidez, ignore a liquidez (numa perspectiva de Zygmunt Bauman) e verás a
estupidez.
Ps.: Por isto, quando eu estiver off-line, não ligue, apenas
espere, retorno quando der, se realmente precisar. Por isto, quando eu não
comentar algo no grupo do “zap zap”, não desespere, não estou chateado com alguém,
apenas estou olhando para o lado, contemplando a luz vermelha. Por isto, quando
eu ficar em silêncio, não tente entender o que estou pensando, pois
provavelmente não estarei pensado, apenas desligando-me, saboreando uma boa
galinhada com pequi. Por isto, aproveite esta mensagem e desligue seu celular
um pouco, fale um bom dia no elevador, e principalmente, escute o bom dia de
outros. Enfim, se eu não responder, é porque estou procurando as perguntas, e
pra isto preciso deligar um pouco o meu celular.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 30 de Janeiro de 2016]