Michel
Foucault (1926-1984)
Segundo Ribeiro (1985, p. 75) o
povo brasileiro, como parte dos Povos-Novos, apresenta em sua constituição de
formação cultural uma lacuna histórica, “a ausência de um segmento social
intermediário e autônomo com o qual pudessem aliar-se na luta pela reordenação
da sociedade”. A intermediação que se fazia necessário, segundo o autor, seria
entre o estado de escravidão e à condição de trabalhadores livres. Portanto,
segundo o autor, se desenvolveu a continuidade de “uma conduta passiva” e “um
condicionamento ao regime servil”. Sendo que estas características permanecem
pigmentando a história de vida do povo brasileiro, sendo especialmente visível
entre as classes populares. Sendo válido considerar a observação de Burawoy
(2010, p. 77), que baseado nos estudos de Bourdieu, afirma que: “a submissão ao
capitalismo é profunda e inconsciente”. Este processo de passividade endossa o
estado de naturalização da pobreza.
A conduta passiva e o
condicionamento do regime servil (RIBEIRO, 1985, p. 75) se desvelam na vivência
dos jovens pobres de periferias sob o disfarce de outras categorias, mas com
similitudes ideológicas percebíveis, a saber: primeiro, a noção de protagonismo
juvenil (DUARTE, 2012) que encarna a conduta passiva, transferindo toda culpa
do sucesso ou fracasso para as histórias de vidas dos jovens, evitando assim
qualquer possibilidade de rebeldia contra os agentes opressores, confirmando,
então, o condicionamento ao regime servil, ou seja, os jovens pobres de
periferias são docilizados (RIZZINI, 1997).
A segunda similitude parte da
gestão filantrópica da pobreza, denunciada por Telles (2001). Sendo assim, os
jovens pobres admitem passivamente o estado de naturalização da pobreza em suas
histórias de vidas como um processo inevitável, culminando na intermediação
social de Instituições do Terceiro Setor. Ao mesmo tempo em que as Instituições
Sociais confirmam a passividade de ser jovem pobre, favorece o regime servil,
pois para ser beneficiado por qualquer intervenção social é requerido dos
jovens a obediência às diretrizes institucionais que, invariavelmente, ocupam
territórios privados.
Os jovens pobres das periferias
brasileiras desfrutam de uma historicidade que anteveem as suas próprias
histórias de vidas e, então, remetem a uma história do Brasil. Sendo assim
torna-se perceptível que o movimento de colonização ainda é constante e parece
ter premunições de permanência histórico-social. Sendo que na atualidade o
“globalitarismo” proposto por Santos (2001) ocupa-se de dar continuidade neste
processo de colonização, condicionamento, exploração, dominação e
naturalização. O resultado imediato é a negação de suas próprias histórias
locais e a identificação com a história do opressor. O escape mnêmico que é
dado se categoriza como esquecimento.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 24 de Março de 2016]
[escrito em 24 de Março de 2016]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
RIBEIRO,
Darcy. Os Brasileiros. Livro I – Teoria
do Brasil. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
BURAWOY, Michael. O
marxismo encontra Bourdieu. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2010.
DUARTE,
Aldimar Jacinto. Jovens Urbanos da
Periferia de Goiânia: Espaços Formativos e Mediações Escolares. 2012. 216
f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Goiás, 2012.
RIZZINI,
Irene. O Século Perdido: Raízes
Históricas das Políticas Públicas para a Infância no Brasil. Rio de
Janeiro: Editora Universitária Santa Ursula, 1997.
TELLES, Vera da Silva. Pobreza
e Cidadania. São Paulo: USP, 2001.
SANTOS,
Milton. Por uma outra Globalização: do
Pensamento único à Consciência Universal. 6 ed. Rio de Janeiro: Record,
2001.