terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Somos todos professores!


"A educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se instrui”.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

Somos todos professores! É óbvio que nem todos nós nos encontraremos nos palanques de uma sala de aula nos padrões convencionais e formais da educação, mas estamos todos nós inseridos na prática pedagógica do cotidiano, isto porque não é apenas a escola/universidade que ensina, mas sim toda e qualquer interação social intencional e movida de sentidos. Desta forma, há ao menos cinco instâncias educativas, ou, instâncias socializadoras, a saber: a escola, a religião, a família, o mundo do trabalho e a mídia.

A escola/universidade é o foco central das discussões pedagógicas, didáticas e educativas, pois esta representa, nuclearmente, a essência da prática educativa. Na escola, intenta-se “ensinar” os indivíduos para o viver em sociedade, ao menos, para a sociedade congênere da própria escola. Aplica-se, portanto, medidas coercitivas, educativas, punitivas, compensatórias, dialógicas, explicativas, teóricas e etc. A proposta final é “devolver” para a sociedade um individuo ajustável às expectativas sociais, eis aí a necessidade de diplomação como forma de diferenciação, distinção e identificação.

A religião também é um campo, perigosamente, fértil de padrões educativos, quer seja na representa exata de salas de aulas de catequeses e/ou discipulados, assim como na própria representa pública da missa/culto/celebração/reunião. Neste contexto, intenta-se ensinar valores morais que perpassam a vida dos fieis/adeptos amoldando-os aos padrões religiosos. Uma simples predicação religiosa traz consigo elementos educativos: persuasão, convencimento, conhecimento e sociabilidade. Há de se destacar que no Brasil, nos primeiros anos, a religião e educação escolar andaram de mãos dadas, o que produziu mudanças eternas em ambas as instituições.

A família é um dos mais relevantes centros educacionais desde os tempos antigos, pois é neste local intangível que as pessoas tendem a passar a maior parte de suas vidas, especialmente nos primeiros anos de vida, consequentemente, é evidente que este local vai ser impregnado de práticas educativas. Na família os indivíduos aprendem os significados de conceitos subjetivos e abstratos como: amor, ódio, esperança, desilusão, saudade, maldade, carinho, afeto, confiança, fraternidade, desamparo, entre outros possíveis distintivos que mesmo nunca sendo ensinado nos padrões formais hão de ser aprendidos e incorporados na vida.

O mundo do trabalho também ensina, quer seja no conhecimento tácito das práticas experienciáveis da vivência ou pela própria educação orientada para o trabalho. O trabalho como concebemos modernamente é decorrência do que se tornou o trabalho a partir da Revolução Industrial, isto é, uma constate adequação junto à evolução das máquinas/tecnologias e as exigências do consumo. Logo, o trabalhador precisava, e ainda hoje precisa, estar em constante processo de aprendizado para continuar útil ao processo produtivo e sendo assim, não ser descartado como obsoleto e ultrapassado.

A mídia, nas mais variadas formas de visibilidade, também fomenta práticas educativas com intencional propósito. Neste sentido, não se concebe a existência de uma mídia isenta de pré-conceitos, de pré-intenções, de imparcialidades e de neutralidades. A mídia serve aos padrões modernos como um doutrinador trejeitado de entretenimento. A ausência de uma sala de aula com todo o aparato escolar não torna a mídia menos eficaz no processo de convencimento, de formação de opinião e de reprodução de práticas sociais.

Enfim, somos todos professores! Quer seja na escola, na religião, na família, no mundo do trabalho e na mídia (e, entre outras formas). Estamos todos ensinando e sendo ensinados, simultaneamente, instantaneamente e conjuntamente. Educação, então, é um processo inerente à existência/atividade humana. A própria vida se torna um processo educativa/pedagógico depositando aos seres vivos a capacidade de compreender, criticar, pensar, duvidar, negar, questionar e etc. Somos todos professores não porque somos importantes, mas sim porque isto é importante para nós.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 27 de Fevereiro de 2018]

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