Paulo Freire (1921 – 1997)
O mundo mudou! A forma de comunicação se transformou, a maneira de
se relacionar se alterou, a expectativa de vida se metamorfoseou e a relação
aluno-professor também partilhou desta radiação mutante-temporal. Entretanto,
ao contrário do que se julga a partir do senso comum, um número considerável de
professores parou no tempo. Estes usam os mesmos livros desde décadas atrás,
valem-se das mesmas ilustrações desde o Brasil Colonial e aplicam os mesmos
procedimentos pedagógicos desde sempre. Em tese, ser professor é impregnar-se
numa rotina de constante transformação, descoberta e renovação, pois a carreira
de docente exige que se contemporanize,
reiterando o ato cíclico de tornar o saber contemporâneo acessível a cada
geração. Ser professor é ter a destreza de trafegar em solos do passado com
relevância presente e significação futura. Contudo, muitos professores estão
destemporalizados e, então, não percebem que as coisas mudaram.
O uso do celular é um dos elementos de maior relevância nas
mudanças ocorridas em sala de aula. A partir da década de 1990 boa parte dos
brasileiros conseguiram obter um aparelho celular que tinha como principal
função inicial falar com outrem. Pouco tempo depois se descobriu que falar ao
celular era apenas um pequeno detalhe na história metamorfoseana das
comunicações. O celular hoje é uma fonte de atualização constante. Fornece
acesso a internet e facilita as conexões humanas com o saber. Contudo, para os
professores destemporalizados, o celular é do
mal. Proibisse a utilização em sala de aula - como se os alunos realmente
fossem obedecer a tal arcaísmo. Não é possível retroceder nas mudanças, o que
precisamos é readaptar (contextualizar e resignificar). Ao invés de proibir o
celular, que o use como fonte de pesquisa, dentro e fora da sala de aula. Além
do mais, nada melhor que um celular para distrair quando a aula está chata ou é
irrelevante (algo muito comum em solos tupiniquins), desta forma o celular
serve como termômetro educacional.
Para os professores destemporalizados evitar a cola em dias de
prova é quase que a essência da docência (sem decência, claro!). Julga-se que a
cola é inadmissível e devem ser punidos todos aqueles que infringirem tal
sagrada diretriz. Contudo, a cola é só o reflexo da incoerência avaliativa.
Cola-se, pois se sabe que mais importante que aprender é passar na disciplina.
Cola-se, pois se sabe que não se sabe
o que foi ensinado. Cola-se, pois entre os brasilianos sempre é mais
interessante o caminho da corrupção do que da honestidade. Cola-se, pois não
houve interesse durante as exposições acadêmicas antes da prova. E, cola-se,
pois é assim que se faz por aqui. A maior infantilidade do professor
destemporalizado é se gabar na sala dos professores que coibiu a cola entre os
alunos - os alunos igualmente, e simultaneamente, estarão na sala ao lado se
gabando de ter colado e o professor não ter visto. A cola é mais que um ato
subversivo, a cola é o desnude da ineficiência dos agentes educacionais.
Portanto, a orientação é que não se proíba a cola! Que deixemos os ventos das
mudanças tornarem a cola ultrapassada por si só. Que os próprios alunos desejem
não colar por pura noção de ética e consciência de aprendizado. Que não se
cole, pois não há necessidade, tendo em vista que os alunos se apoderaram dos
saberes expostos em sala. Que não precisemos de cão de guarda (professor) para
evitar o agora inevitável (cola). Enquanto alunos quiserem colar de nada
adianta o professor ensinar.
A presença (chamada) é outra luz que denuncia o quanto há professores
destemporalizados. Neste viés, tem-se aqueles indecentes docentes que ousam
fazer três ou quatro chamadas (a cada 45 min, aproximadamente). Com isto
perde-se quase meia aula só no ato adestrado de ouvir eclodir os gritos de “presente”.
A chamada é um recurso terroristico do professor, e por isto mesmo já a torna
ultrajante e arcaica. Os tempos mudaram e cada indivíduo deve ter maturidade/consciência suficiente para
julgar no que vale a pena gastar o precioso tempo. Obviamente, este processo de
maturação se dá gradativamente, por esta razão, quase sempre se olha para o
passado e julga que poderíamos ter feito melhor, com mais maturidade. Os alunos
atuais querem deter as rédeas de suas vidas, querem poder se ausentar quando o
que se está sendo ensinado não é coerente, lógico e desconexo com a realidade.
O abandono dos alunos às salas de aula é um outdoor escrito com letras
garrafais: “este conteúdo não me interessa, sua aula não tem didática”. É válida
a ressalva que não estamos propondo que os professores sejam animadores de
palco, tipo palhaços. Entretanto, o aluno tem total condição de julgar/criticar
a ação docente se ausentando da aula
fúnebre se assim o quiser. Isto sim demostra o quanto os tempos mudaram.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 20 de Agosto de 2014]