Charles Chaplin (1889-1977)
Os estudiosos da educação, especialmente no que se refere ao
processo de concentração e cognição, defendem que na medida em que a pessoa vai
crescendo sua capacidade de percepção/reflexão tende a expandir. Então,
espera-se que a capacidade de concentração de uma criança de quatro anos seja
mui diferente da de um adulto de 25 anos. Espera-se que uma criança de dois
anos não tenha, ainda, condições de se interessar por assuntos
complexos/conceituais, diferentemente de um adulto de 35 anos de idade.
Espera-se que haja um amadurecimento gradual na medida em que a idade vai
passando, e na medida em que vai se progredindo nas fases escolares. Espera-se
que a capacidade de produção de texto, e a então capacidade crítica, seja
desenvolvida ao longo do processo educacional. Espera-se que o aluno
universitário seja mais interessado em aprender que um adolescente.
Espera-se... e tão somente espera-se, pois a realidade tem desnudado um outro contexto
(triste, vergonhoso e ascendente).
Nesta última década tenho trabalhado exclusivamente com a educação
superior, e por puro (e conclusivo) empirismo afirmo que o nível dos alunos
regrediu. O que tenho visto são verdadeiros “Benjamin Button” da educação –
quanto mais envelhecem, mais se tornam crianças. Acredito que não estou sozinho
nesta percepção. O professor Pierluigi Piazzi e o professor Sergio Cortella
endossam está perspectiva (assista vídeos destes professores no YouTube). Os
alunos estão chegando às universidades com menor capacidade crítica, com ausência
de criatividade, com preguiça de pensar, com desdenho com a leitura, com morbidez
na produção de texto, com déficit de respeito ao professor, com desprezo ao
conhecimento e com carência emotiva. Este coquetel
do mal tem tornado a sala de aula um lugar totalmente infantilizado.
O nível dos alunos piorou. Atualmente os alunos universitários não
conseguem prestar atenção na aula (ou em estudos extraclasse) mais do que 15
minutos - equivalente à capacidade de concentração de uma criança no jardim de
infância. Após este breve período os professores tem que valer-se de dinâmicas (nome pomposo para tornar
lúdico o processo, comprovando a infantilização da educação superior). Os
alunos são muito impacientes e tem muita dificuldade de completar uma tarefa - características
de crianças de aproximadamente quatro anos de idade. Por isto, muitas
atividades em classe ficam para casa (não é que não tenha tempo para fazer uma
atividade, a verdade é que os alunos não estão tendo capacidade de fazer a
atividade). Os alunos universitários não sabem lidar com conceitos abstratos
(teorias/saberes), tudo têm que ser pragmático, visível, útil, imediato e
concreto – atitudes estas que se assemelham a uma criança de seis anos de idade
que ao se inserir no contexto escolar tem que começar a aprender a lidar com o
abstrato (questões metafísicas, noções de tempo, espaço, pensamentos).
O nível dos alunos piorou. Atualmente os alunos da educação
superior são facilmente irritáveis e terrivelmente emotivos – como crianças que
não aceitam ser contrariadas. Assim ficam emburradas, fazem biquinhos e franzem
a testa. Os alunos exigem respeito sem se darem ao respeito – irritam todos
(especialmente ao professor), mas quando o irritam fica enraivecido e acha que
é bullying, coisa de criança mimada
que não tem noção de seus atos. Os alunos fazem da sala de aula uma sala de bate papo, onde silêncio é
adjetivo raro – é tipo crianças que não conseguem ficar quietas, a não ser
quando estão assistindo desenho da Peppa
Pig. Os alunos estão indo para as faculdades para medir força bruta, se
possível com o professor, com fins a desmoralizar estes educadores – são como
adolescentes que por qualquer besteira querem brigar para se mostrar para os da
sua gangue, a sala se tornou um octógono de MMA. Os alunos estão se
desenvolvendo na técnica da fofoca
conceitual, insistindo em falar mal de um professor para o outro professor,
ou entre aluno-aluno – atitudes de características teen que denunciam a imaturidade destes novéis acadêmicos.
A educação superior no Brasil está sofrendo de um retrocesso
intelectual e emocional, estamos presenciando uma infantilização da
universidade. E a semelhança da técnica (senso-comum) para se matar sapos lentamente
(coloque-o na água fresa e vai se esquentando gradativamente até o sapo
morrer), estamos num caldeirão fervente, mas com sensação de água morna. De um
lado os alunos se iludindo que estão aprendendo e não percebendo o quão
infantis estão sendo. Do outro lado os professores que se renderam a esta nova
condição de infantilização. O resultado é previsível: diplomas que não vale
nada, conhecimentos desconexos, faculdade desmoralizada, saberes perdidos,
professores cansados e donos de faculdades enriquecendo.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 21 de Outubro de 2014]