sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Do islamismo a fantasia da liberdade


“Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada”.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)

O mundo moderno é marcado pelo terrorismo. Fato! Será?! E terrorismo de quem? Para com quem? E até que ponto está “guerra” é religiosa, ou todo pano religioso é apenas uma máscara politica para implementação de um globalitarismo (globalização com autoritarismo), conforme nomeia Milton Santos. Até que ponto as informações mediadas pela mídia (redundância necessária) são confiáveis e isentas de violência simbólica, como categoriza Pierre Bourdieu. Se estamos em guerra não é contra o Islamismo, ou pelo menos não deveria ser, pois o inimigo é outro, bem mais perto de nós.

Nos comovemos com o, suposto, recém atentado, dito, terrorista, em Paris (dia 13 de Novembro/2015), o que de fato deve gerar tal comoção. Contudo, estranhamente não nos comovemos com os 25 suicídios diários no Brasil, que totalizam mais de nove mil suicídios por ano (estimativa). E o fato de que o suicídio cresceu 30 % entre os jovens de 15 a 29 anos, também não nos comove (dados retirados da Revista ISTO É, de setembro/2013, escrito pela colunista Mônica Tarantino). Lembrando que se estes são os números oficiais, provavelmente o numero real deve ser muito maior, pois suicídio não é algo que socialmente e religiosamente tenha boa aceitação.

Não nos comove o número de mortos pelo terrorismo automobilístico causado por “acidentes” de trânsito, que em sua grande maioria são por pura imprudência e intencional irresponsabilidade humana. Segundo o Instituto Avante Brasil, em 2014, estima-se que houve mais de quarenta e oito mil mortos no trânsito. O que segundo o jurista Luiz Flavio Gomes, em termos absolutos, o Brasil ocupa o 4° lugar no ranking mundial (os dados estão expostos no blog/site JUSBRASIL). Tristemente, em solos tupiniquins matar usando como arma o carro, não é motivo de nossa comoção nacional, é uma normose cultural.

Não nos comove saber que no Nordeste, em 2012, mais de quatro milhões de animais, entre bovinos e caprinos, morreram por causa da seca extrema, segundo dados do IBGE (pesquisa Produção da Pecuária Municipal, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). E sendo assim, não nos comove a história de Maria Aparecida que afirma ter como maior sonho uma cisterna e água na torneira (reportagem disponível no site G1, em 02 de junho de 2015). Infelizmente, perceber que só dos animais mortos pela seca, se não o fossem, poderíamos minimizar a fome de tantos grupos minoritários que vivem em situação de pauperismo nos rincões brasilianos, mas isto também não nos comove ao ponto de fazermos algo. Por tudo isto, reitero que o que me preocupa não é a comoção por Paris (França), mas sim a ausência de comoção pelos terrorismos brasileiros, cotidianos.

Nossas comoções passam essencialmente por duas vias: a primeira é a via do individualismo-coletivo, que se demostra favorável a intervenções e revoluções, desde que o problema em questão seja o “meu” problema. Nossas indignações não se tornam coletivas, a não ser se for congruente como o “meu” interesse. O Brasil não é um país solidário a causas coletivas, o que temos, de fato, são alguns movimentos que, temporalmente, se alinham as necessidades individuais de alguns, e por isto ganham volume. Por isto, não se vê com frequência um homossexual lutando pela causa heterossexual (ou vice versa), ou um homem defendendo a Lei Maria da Penha, ou ainda um homem defendendo a equiparação salarial da mulher no mercado de trabalho, ou um usuário de carro enfrentando o monopólio do transporte público.

A segunda via de nossas comoções é a via da supervalorização da cultura do Norte. Os autóctones, nativos do Terceiro Mundo (expressão não mais usual após o fim da Guerra Fria), de países em desenvolvimento (?) tendem a fixar mais os olhos nos acontecimentos europeus e estadunidenses, do que nas mazelas nacionais. O que acontece lá é mais importante do que aquilo que acontece pra cá. Isto, talvez, se explique (não justifique), pelo fato de nossa história de estratificação colonial, em que massacraram a cultura indígena local, relegando-a a anátema, e não poucas vezes associando esta cultura a inferioridades infernais. Outra prova disto são os atentados terroristas que aconteceram recentemente na África, que teve muito mais mortes, estupro e violência do que Paris, mas que não ganham destaque (ou comoção), pois afinal, não são do Norte.

Com relação ao suposto atentado de Paris (novembro/2015), há um ponto interessante (para não usar o termo “positivo”), pois muitos cristãos, especialmente os evangélicos, estavam fomentando a jihad gospel, associando a acolhida dos refugiados como uma estratégia islâmica de terrorismo global. O atentado em Paris provou o contrário, pois quase que imediatamente muitos países europeus cancelaram os acordos de acolhida e iniciaram silenciosamente, mas de forma brutal, um processo de deportação dos imigrantes. Ou seja, se, segundo o terrorismo gospel, os islâmicos queriam se infiltrar, isto não mais é possível (ao menos não como estava sendo praticado).

Ainda sobre o “suposto” atentado em Paris é preciso fazer uma conjectura animalesca de nossa humanização urbana capitalista, nada islâmica por sinal. Reafirmo, que o que houve em Paris foi um “suposto” atentado, pois em termos numéricos, o atentado foi inexpressivo (talvez o termo soe desapropriado e deselegante). O local do atentado foi no mínimo deslocado. Não atingiu nenhum local simbólico de Paris ou politico. Quem morreu foram apenas “pessoas”. Tudo isto é muito suspeito. Mais estranho é perceber que 30 minutos depois a Holanda já faz um pronunciamento ante-acolhida de refugiados, entre outros que se seguiram. Há quem diga que a própria Europa tenha simulado o atentado para fechar as portas para os refugiados de forma a, nem mesmo os órgão de direitos humanos, terem como que retalhar. O óbvio, agora, é não aceitar mais nenhum refugiado. Se este era o plano, deu certo. Deu tão certo, que nem a ONU se manifestou contrário ao fechamento das fronteiras.

Os supostos terroristas no atentado de Paris não eram refugiados, mas sim cidadão europeu. Contudo, a mídia não podia afirmar isto, não categoricamente, dai vinculou enfaticamente serem estes de origem árabe (uma designação extremante genérica e nada descritiva). O que a mídia quer demonstrar, entusiasticamente, é que um europeu não tem a gênesis de um terrorista, mas de contra partida, todos do mundo árabe tem no DNA um construto genético propicio a ser homem bomba. Isto é no mínimo dissimulação. O que ficou estereotipado no amistoso entre Turquia e Grécia, em Istambul, no dia 17 de Novembro/2015, quando o um minuto de silêncio em condolência aos franceses foi vaiado. Foi vaiado pela torcida turca, pois esta beatificação do Norte máscara os reais terrorismos que a própria França promove nos países do oriente médio. Então, a vaia foi um gritou que ecoou a incompatibilidade entre a aparência que a mídia mostra e a realidade terrorista que os países europeus e estadunidenses promovem nos países de oriente médio (na América Latina, países africanos, entre outros).

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 20 de Outubro de 2015]