"A
educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de
entender, já se instrui”.
Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778)
Somos todos professores! É óbvio que nem todos nós nos
encontraremos nos palanques de uma sala de aula nos padrões convencionais e
formais da educação, mas estamos todos nós inseridos na prática pedagógica do
cotidiano, isto porque não é apenas a escola/universidade que ensina, mas sim toda
e qualquer interação social intencional e movida de sentidos. Desta forma, há
ao menos cinco instâncias educativas, ou, instâncias socializadoras, a saber: a
escola, a religião, a família, o mundo do trabalho e a mídia.
A escola/universidade é o foco central das discussões pedagógicas,
didáticas e educativas, pois esta representa, nuclearmente, a essência da prática
educativa. Na escola, intenta-se “ensinar” os indivíduos para o viver em
sociedade, ao menos, para a sociedade congênere da própria escola. Aplica-se,
portanto, medidas coercitivas, educativas, punitivas, compensatórias, dialógicas,
explicativas, teóricas e etc. A proposta final é “devolver” para a sociedade um
individuo ajustável às expectativas sociais, eis aí a necessidade de diplomação
como forma de diferenciação, distinção e identificação.
A religião também é um campo, perigosamente, fértil de padrões
educativos, quer seja na representa exata de salas de aulas de catequeses e/ou
discipulados, assim como na própria representa pública da missa/culto/celebração/reunião.
Neste contexto, intenta-se ensinar valores morais que perpassam a vida dos
fieis/adeptos amoldando-os aos padrões religiosos. Uma simples predicação
religiosa traz consigo elementos educativos: persuasão, convencimento,
conhecimento e sociabilidade. Há de se destacar que no Brasil, nos primeiros
anos, a religião e educação escolar andaram de mãos dadas, o que produziu
mudanças eternas em ambas as instituições.
A família é um dos mais relevantes centros educacionais desde
os tempos antigos, pois é neste local intangível que as pessoas tendem a passar
a maior parte de suas vidas, especialmente nos primeiros anos de vida,
consequentemente, é evidente que este local vai ser impregnado de práticas
educativas. Na família os indivíduos aprendem os significados de conceitos
subjetivos e abstratos como: amor, ódio, esperança, desilusão, saudade,
maldade, carinho, afeto, confiança, fraternidade, desamparo, entre outros possíveis
distintivos que mesmo nunca sendo ensinado nos padrões formais hão de ser
aprendidos e incorporados na vida.
O mundo do trabalho também ensina, quer seja no conhecimento
tácito das práticas experienciáveis da vivência ou pela própria educação orientada
para o trabalho. O trabalho como concebemos modernamente é decorrência do que
se tornou o trabalho a partir da Revolução Industrial, isto é, uma constate
adequação junto à evolução das máquinas/tecnologias e as exigências do consumo.
Logo, o trabalhador precisava, e ainda hoje precisa, estar em constante
processo de aprendizado para continuar útil ao processo produtivo e sendo assim,
não ser descartado como obsoleto e ultrapassado.
A mídia, nas mais variadas formas de visibilidade, também
fomenta práticas educativas com intencional propósito. Neste sentido, não se concebe
a existência de uma mídia isenta de pré-conceitos, de pré-intenções, de imparcialidades
e de neutralidades. A mídia serve aos padrões modernos como um doutrinador trejeitado
de entretenimento. A ausência de uma sala de aula com todo o aparato escolar não
torna a mídia menos eficaz no processo de convencimento, de formação de opinião
e de reprodução de práticas sociais.
Enfim, somos todos professores! Quer seja na escola, na
religião, na família, no mundo do trabalho e na mídia (e, entre outras formas).
Estamos todos ensinando e sendo ensinados, simultaneamente, instantaneamente e conjuntamente.
Educação, então, é um processo inerente à existência/atividade humana. A própria
vida se torna um processo educativa/pedagógico depositando aos seres vivos a
capacidade de compreender, criticar, pensar, duvidar, negar, questionar e etc. Somos
todos professores não porque somos importantes, mas sim porque isto é
importante para nós.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 27 de Fevereiro de 2018]