“...é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça
social se implante antes da caridade”.
Paulo Freire (1921-1997)
O tema
justiça social vem sendo tratado com especial destaque pela mídia, discussões públicas
e também na academia (contexto educacional). A mídia, por causa da rapidez da informação acaba por não ter
tempo de pesquisar as bases das informações, repassando fanatismos,
superficialidades e sensacionalismos – mazela midiática que é absorvida,
acriticamente, pelas massas populacionais que não querem saber, apenas opinar sobre. As discussões públicas se rendem
ao grande doutrinador pós-moderno denominado de “televisão”, agente de toda
tendência comportamental tupiniquim – sendo assim, não há, de fato, opinião
pública, o que há, na verdade, é a opinião dos coronéis do High Definition Television. O que restaria de discurso, supostamente
de sanidade, sobre a temática da justiça social é na academia. Supostamente!
Nesta
panaceia da defensoria dos minoritários se esconde uma sutil perversão
ideológica, principalmente no campo da torre de marfim do saber. Muito se
discorre sobre a discriminação dos homossexuais, sobre o racismo interpelado
aos negros, sobre a menoridade penal, sobre abusos domésticos contra as
mulheres, entre outras temáticas cunhadas na prateleira da justiça social e
protegida pelos arames farpados da academia. Entretanto, para que haja justiça
social é necessário romper as pretensões individuais que torna, então, a
temática refém de interesses pessoais dos seus respectivos interlocutores. Isto
se justifica, pois defender causas pessoais não fomenta a justiça social, apenas
acirra os ânimos sobre o individualismo autoritativo.
Um professor
homossexual defender a união homoafetiva não é, plenamente, lutar por justiça
social, é também interesse pessoal. Uma mulher que sofre maus-tratos se tornar
símbolo de libertação não tem só haver com justiça social, mas sim, também, com
a causa própria. Um aluno negro discursar sobre cotas universitárias não é só
uma tentativa de se colocar em condições iguais, mas também uma forma de
benefício próprio. Perceba que o problema não está na temática em si, mas em
quem a defende – ratifico que todas estas alíneas são sim eixos centrais na
questão “justiça social” (por isto o uso exagerado da expressão “também”),
porém para que a justiça social deixe de ser um espetáculo acadêmico é preciso mudar
os seus precursores/atores.
A justiça
social será justa e eficazmente social quando a luta do outro, for a minha luta.
Acreditarei no discurso de justiça social quando um heterossexual defender o
direito do homossexual; quando um homem se prontificar a proteger uma mulher abusada/maltrada;
quando um branco questionar a desigualdade histórica dos negros no sistema
escolar; entre outras exemplificações semelhantes. Só haverá justiça quando
formos justos, independente de nossas causas pessoais. Só será social quando
formos ao encontro da mazela do outro, indiferentemente das nossas próprias
desvirtudes. Assim, a justiça social deixa de ser um palanque de pedintes e se
torna uma praça de solidariedade.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 26 de Janeiro de 2015]