quarta-feira, 13 de abril de 2016

Um olhar sobre a tribalização juvenil


“Os velhos desconfiam da juventude porque foram jovens”.
William Shakespeare (1564-1616) 

Para Maffesoli (1998, p. 09) o movimento de tribalização é um “processo de desindividualização”. Sendo, portanto, capaz de socializar os indivíduos em grupos de afinidades provocando agrupamentos sociais. Para o autor o tribalismo é um resgate do arcadismo da sociedade pré-industrial que se ajuntavam em tribos para sobreviverem, o que provoca um sentimento coletivo nos indivíduos inseridos na mesma.

Segundo Martins (2004), são exemplos de tribos urbanas, tipicamente jovem: punks, shinheads, rapper, skaters, white powers, clubbers, grunges e góticos. Sendo que tais ritos de tribalização são mediados e fomentados, na atualidade, essencialmente via redes sociais. Abramo (2014, p. 46) expande a lista inserindo outras formas de manifestação da cultura juvenil, especialmente por meio da música: rock, heavy metal, reggae, hip hop e funk; e também por meio da dança: street dance e break; por fim, também a apresenta por meio do esporte: basquete de rua e skate. Sendo assim, Maffesoli (2010) afirma que o movimento de tribalização pode ser de ordem sexual, musical, religiosa, esportista, cultural e político.

Maffesoli (2010, p. 24) destaca a importância da tribo quanto construtora de identidade. Para o autor a tribo “impõe códigos, modos de vestir, práticas de linguagem”. Nos estudos de Pais (2004) acerca da juventude há um grande destaque para a noção de tribalização, suas representatividades juvenis e sua inserção confrontativa junto na realidade convencional. Segundo o autor o processo de tribalização funciona como esteios para a criação de novas realidades, realidades estas “subversivas em relação a realidade percepcionada” (PAIS, 2004, p. 16). Para o autor as tribos juvenis confrontam e põem em atrito diferentes realidades, e sendo assim muitos comportamentos dos jovens são percebidos como anómicos.

Para Pais (2004, p. 17) “as tribos geram um sentimento de pertença que assegura marcos conviviais que são garantes de afirmações identitárias”. Desta forma o autor acredita que este processo é produtor de “vínculos de sociabilidade e de integração social”. Por esta razão, o autor associa o processo de suposta subversão, ao que ele denomina de conversão tribal, por ser esta uma percepção mui peculiar e necessária para a sobrevivência dos jovens no contexto moderno. Maffesoli (2001, p. 79) acrescenta que: “Todo mundo é de um lugar, e crê, a partir deste lugar, ter ligações, mas para que este lugar e estas ligações assumam todo o seu significado, é preciso que sejam, realmente ou fantasiosamente, negados, superados, transgredidos. É uma marca do sentimento trágico da existência: nada se resolve numa superação sintética, tudo é vivido em tensão, na incompletude permanente”.

Dito isto, há de se repensar o movimento moderno de tribalização juvenil proposto por Maffesoli (1998) especialmente em dois aspectos, a saber: primeiro, a transitoriedade e provisoriedade da identificação tribal, pois como defende Roure (2011, p. 156) na atualidade os laços são estabelecidos “em torno de imagens descartáveis e objetos consumíveis oferecidos por uma cultura globalizante”. Sendo assim, a identificação coletiva, ou tribal, não seria uma desindividualização como propõe Maffesoli (1998), mas sim sinais de individualização contemporânea.

A segunda consideração sobre o pressuposto de tribalismo de Maffesoli (1998) se dá pelo fato de que as tribos urbanas juvenis podem não ser um agrupamento coletivo num sentido latto, mas sim um agrupamento de individualismos. Isto permite ponderar que a relação com a tribo se dá pelo interesse individualizado de reconhecimento social, disputa de poder e dominação simbólica. Desta forma o movimento de tribalização funcionaria não como um campo de fraternidade como propõe Maffesoli (1998), mais sim como um campo disputa, desclassificação e classificação.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 20 de Março de 2016]


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MAFFESOLI, Michel. O Tempo das Tribos: o Declínio do Individualismo nas Sociedades de Massa. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.
MAFFESOLI, Michel. Saturação. São Paulo: Iluminuras, 2010.
MAFFESOLI, Michel. Sobre o Nomandismo: Vagabundagens Pós-Modernas. Rio de Janeiro: Record, 2001.
MARTINS, Wilmont de Moura. Trilhas Juvenis: uma Análise das Práticas Espaciais dos Jovens em Goiânia. 2004. 134 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2004.
ABRAMO, Helena Wendel [org]. Estação Juventude: Conceitos Fundamentais – Pontos de Partida para uma Reflexão sobre Políticas Públicas de Juventude. Brasília: Secretaria Nacional de Juventude, 2014.
PAIS, José Machado [org]. Tribos Urbanas: Produção Artística e Identidades. São Paulo: Annablume, 2004.
ROURE, Glacy Queiroz de. Juventude, O Tempo Das Tribos e as Torcidas Organizadas. Revista Educativa. Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC GO), Goiânia, v. 14, n. 1, pp. 155-167, jan./jun. 2011.

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