terça-feira, 28 de abril de 2015

Encontros e desencontros


“navegar é preciso, viver não é preciso”.
Fernando Pessoa (1888-1935) 

A vida bem que poderia ser definida como um circo. Algumas vezes vesti-se de palhaço dando boas gargalhadas para abafar o tumor da tristeza no coração. Em outras ocasiões toma-se o lugar de mágico tentando surpreender as pessoas com truques incríveis, porém apenas ilusórios. A humanidade parece estar em um gigantesco picadeiro. E, dali, vestindo-se de malabarista usam de toda habilidade para não deixar as peças caírem evitando dessa maneira uma profunda frustração na platéia. Constantemente ocupa-se o lugar de domador de leões aventurando-se na difícil arte de controlar a fúria de outrem.

No palco da existência se contempla o maior circo da história. Existem aqueles que preferem ser como bons dançarinos encenando nas cordas da existência uma elevação da realidade. E finalmente, às vezes, prefere-se ser apenas o apresentador que surge na arena para aquietar o público no início e despedir a multidão no final. No circo da vida os artífices somos nós, e em meio aos encontros e desencontros das vivências iniciam-se as apresentações. Contudo, nem sempre se ouvirá aplausos, algumas vezes o único som que ecoará da platéia será uma vaia recriminatória.

A complexa arte de amimar os espectadores é um perigo apavorante e entusiasmante. Enquanto os protagonistas treinam incansavelmente para não decepcionarem a si mesmos, existem outros que, simplesmente, escolhem ser ridículos espectadores para julgar o esforço alheio. E neste emaranhado de públicos, que muitos se escondem, sozinhos. A aglomeração que se forma embaixo da tenda da vida expõe o individualismo da indiferença. Tristemente, isto reflete o quanto os artistas preferem não se encontrar para não provocarem desencontros.

No palco da vida quem está debaixo dos holofotes somos nós, nus, sem maquiagem ou pavonices. Juntos estamos a apresentar na arena da existência o que realmente somos. Não há necessidade máscaras, fantasias, mágicas ou malabarismos. Só precisamos encenar aquilo que tanto ensaiamos. E neste espetáculo inédito, vivido dia a pós dia, as plateias assistem quem somos. Então, deste ato solene surgirá encontros e desencontros que serão eternizados na memoria daqueles que viveram.

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 09 de Março de 2009]

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