“navegar é
preciso, viver não é preciso”.
Fernando Pessoa
(1888-1935)
A vida bem que poderia ser definida como um
circo. Algumas vezes vesti-se de palhaço dando boas gargalhadas para abafar o
tumor da tristeza no coração. Em outras ocasiões toma-se o lugar de mágico
tentando surpreender as pessoas com truques incríveis, porém apenas ilusórios.
A humanidade parece estar em um gigantesco picadeiro. E, dali, vestindo-se de
malabarista usam de toda habilidade para não deixar as peças caírem evitando
dessa maneira uma profunda frustração na platéia. Constantemente ocupa-se o
lugar de domador de leões aventurando-se na difícil arte de controlar a fúria de
outrem.
No palco da existência se contempla o maior
circo da história. Existem aqueles que preferem ser como bons dançarinos
encenando nas cordas da existência uma elevação da realidade. E finalmente, às
vezes, prefere-se ser apenas o apresentador que surge na arena para aquietar o
público no início e despedir a multidão no final. No circo da vida os artífices
somos nós, e em meio aos encontros e desencontros das vivências iniciam-se as
apresentações. Contudo, nem sempre se ouvirá aplausos, algumas vezes o único
som que ecoará da platéia será uma vaia recriminatória.
A complexa arte de amimar os espectadores é
um perigo apavorante e entusiasmante. Enquanto os protagonistas treinam
incansavelmente para não decepcionarem a si mesmos, existem outros que,
simplesmente, escolhem ser ridículos espectadores para julgar o esforço alheio.
E neste emaranhado de públicos, que muitos se escondem, sozinhos. A aglomeração
que se forma embaixo da tenda da vida expõe o individualismo da indiferença. Tristemente,
isto reflete o quanto os artistas preferem não se encontrar para não provocarem
desencontros.
No palco da vida quem está debaixo dos
holofotes somos nós, nus, sem maquiagem ou pavonices. Juntos estamos a apresentar
na arena da existência o que realmente somos. Não há necessidade máscaras,
fantasias, mágicas ou malabarismos. Só precisamos encenar aquilo que tanto
ensaiamos. E neste espetáculo inédito, vivido dia a pós dia, as plateias assistem
quem somos. Então, deste ato solene surgirá encontros e desencontros que serão
eternizados na memoria daqueles que viveram.
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 09 de Março de 2009]
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