sábado, 22 de março de 2014

Chegou o dia da prova !


“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”.
Immanuel Kant (1724-1804) 

O grande leviatã que assombra a mente e coração dos alunos é a aterrorizante “prova”. Termo este que ao poucos foi ganhando novas nomenclaturas com fins a não assombrar os discentes que resumem suas jornadas acadêmicas numa lauda de questões. Dai surgem expressões do tipo: avaliações, trabalhos avaliativos, verificação da aprendizagem, entre outras. De fato pouco importa os nomes pomposos ou popularistas que se dão, quando este dia chega não resta dúvida, o medo personifica nas salas de aula. Nada é mais horripilante que a data da prova, é como conduzir ovelhas ao matadouro. Assemelha-se ao sentimento de desespero de soldados desarmados em plena guerra bélica. Então, a pior expressão que pode ser pronunciado nos rincões acadêmicos é: “chegou o dia da prova!”.

A razão para tão grande terror tem várias vertentes: medo do professor castigar os alunos – ao que parece os alunos acreditam veementemente que castigar faça parte da índole do ser professor. Medo de não conseguir responder o que o professor quer – dá a impressão que o aluno não está preocupado em aprender de fato, mas sim em concordar tematicamente com o professor. Medo de não saber a matéria – reação previsível aos alunos que fazem da educação um encontro social qualquer, sem comprometimento e reflexão prática. Medo de não passar na disciplina – tristemente para uma maioria esmagadora o que interessa é passar, não necessariamente aprender, por isto a prova é tão importante.

As provas, de qualquer gênero, são recursos que visam, essencialmente, atender as necessidades da Instituição de Ensino no quesito padronização. Com as provas os alunos estão amparados para valer-se de recursos de revisão, caso se sinta prejudicados pelo algoz/professor – por esta razão decoram e colocam na prova igualzinho ao livro/apostila. Com as provas os professores estão amparados, documentalmente, a não terem que atender as necessidades socioeducacionais de cada aluno – por esta razão usam as provas para nivelar, ou melhor, excluir os alunos com dificuldade de aprendizado. Com as provas as coordenações estão amparadas a encerrar qualquer discussão entre alunos e professores, pois afinal a prova é, acima de qualquer suspeita, um documento – por esta razão não orientam avaliações participativas, orais ou grupais, que torna subjetivo os critérios.

Acredito que a função avaliativa deva estar subordinada à função educativa, ou seja, mais importante que obtenção de notas (ou as formas de obtenção de nota) e a capacidade do aluno de aprender. Para tanto o planejamento educacional e as ações educativas devem contemplar de forma satisfatória a interação social do aluno-aluno, aluno-professor, aluno-sociedade. Já que as relações interpessoais estão presentes em todo o ambiente educacional, sendo que o próprio aprendizado se dá pela interação entre os agentes educacionais. Por isto, o aprendizado é fruto das interfaces das vivências. Por este motivo, o ensino não é linear, mas sim cíclico.

O ser humano é um ser em transformação continua – inacabado e inconcluso. Sendo que o desenvolvimento cognitivo se dá a partir da capacidade individual de cada pessoa, não sendo, portanto, a educação um processo de padronização, mas sim uma imersão do saber a partir do contexto social, cultural, educacional e econômico dos alunos. Portanto, torna imperativa a valorização das diversidades de ambientes e sistemas de avaliações educacionais. O processo cognitivo é fundamental para o desenvolvimento do conhecimento a nível acadêmico, pois torna científicos os saberes do cotidiano – e é isto que precisa ser realmente avaliado.

Então, talvez, se tivéssemos no máximo cinco alunos por turmas (o número de alunos citado é apenas para exemplificar a necessidade do esvaziamento das classes), e que as aulas assumissem um caráter multi-inter-transdisciplinar, conseguiríamos construir uma educação sem o mostro da prova – seria tipo a histórica educação informal grega. Contudo, tal proposta se torna inviável financeiramente aos defensores da privatização educacional, e, compromete os índices nacionais/internacionais da educação pública – por isto: prova neles!

Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 21 de Março de 2014]

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