“O homem não é nada além daquilo que a
educação faz dele”.
Immanuel Kant (1724-1804)
O grande leviatã que assombra a mente e coração dos alunos é a
aterrorizante “prova”. Termo este que ao poucos foi ganhando novas
nomenclaturas com fins a não assombrar os discentes que resumem suas jornadas
acadêmicas numa lauda de questões. Dai surgem expressões do tipo: avaliações,
trabalhos avaliativos, verificação da aprendizagem, entre outras. De fato pouco
importa os nomes pomposos ou popularistas que se dão, quando este dia chega não
resta dúvida, o medo personifica nas salas de aula. Nada é mais horripilante
que a data da prova, é como conduzir ovelhas ao matadouro. Assemelha-se ao
sentimento de desespero de soldados desarmados em plena guerra bélica. Então, a
pior expressão que pode ser pronunciado nos rincões acadêmicos é: “chegou o dia
da prova!”.
A razão para tão grande terror tem várias vertentes: medo do
professor castigar os alunos – ao que parece os alunos acreditam veementemente
que castigar faça parte da índole do ser professor. Medo de não conseguir
responder o que o professor quer – dá a impressão que o aluno não está
preocupado em aprender de fato, mas sim em concordar tematicamente com o
professor. Medo de não saber a matéria – reação previsível aos alunos que fazem
da educação um encontro social qualquer, sem comprometimento e reflexão prática.
Medo de não passar na disciplina – tristemente para uma maioria esmagadora o
que interessa é passar, não necessariamente aprender, por isto a prova é tão
importante.
As provas, de qualquer gênero, são recursos que visam, essencialmente,
atender as necessidades da Instituição de Ensino no quesito padronização. Com
as provas os alunos estão amparados para valer-se de recursos de revisão, caso
se sinta prejudicados pelo algoz/professor – por esta razão decoram e colocam
na prova igualzinho ao livro/apostila. Com as provas os professores estão
amparados, documentalmente, a não terem que atender as necessidades
socioeducacionais de cada aluno – por esta razão usam as provas para nivelar,
ou melhor, excluir os alunos com dificuldade de aprendizado. Com as provas as
coordenações estão amparadas a encerrar qualquer discussão entre alunos e
professores, pois afinal a prova é, acima de qualquer suspeita, um documento –
por esta razão não orientam avaliações participativas, orais ou grupais, que
torna subjetivo os critérios.
Acredito que a função avaliativa deva estar subordinada à função
educativa, ou seja, mais importante que obtenção de notas (ou as formas de
obtenção de nota) e a capacidade do aluno de aprender. Para tanto o
planejamento educacional e as ações educativas devem contemplar de forma
satisfatória a interação social do aluno-aluno, aluno-professor,
aluno-sociedade. Já que as relações interpessoais estão presentes em todo o
ambiente educacional, sendo que o próprio aprendizado se dá pela interação
entre os agentes educacionais. Por isto, o aprendizado é fruto das interfaces
das vivências. Por este motivo, o ensino não é linear, mas sim cíclico.
O ser humano é um ser em transformação continua – inacabado e
inconcluso. Sendo que o desenvolvimento cognitivo se dá a partir da capacidade
individual de cada pessoa, não sendo, portanto, a educação um processo de
padronização, mas sim uma imersão do saber a partir do contexto social,
cultural, educacional e econômico dos alunos. Portanto, torna imperativa a
valorização das diversidades de ambientes e sistemas de avaliações educacionais.
O processo cognitivo é fundamental para o desenvolvimento do conhecimento a
nível acadêmico, pois torna científicos os saberes do cotidiano – e é isto que
precisa ser realmente avaliado.
Então, talvez, se tivéssemos no máximo cinco alunos por turmas (o
número de alunos citado é apenas para exemplificar a necessidade do
esvaziamento das classes), e que as aulas assumissem um caráter multi-inter-transdisciplinar,
conseguiríamos construir uma educação sem o mostro da prova – seria tipo a histórica
educação informal grega. Contudo, tal proposta se torna inviável
financeiramente aos defensores da privatização educacional, e, compromete os índices
nacionais/internacionais da educação pública – por isto: prova neles!
Assim e simplesmente,
Vinicius Seabra | vs.seabra@gmail.com
[escrito em 21 de Março de 2014]
Nenhum comentário:
Postar um comentário